Uma lição de como não devemos julgar as pessoas pelas aparências:
Exemplos de vida
Fui
um profissional apaixonado pelo meu trabalho e ainda hoje, aposentado, apraz-me
falar dos momentos inesquecíveis que ele me permitiu desfrutar. É claro que não
trilhei apenas caminhos floridos, pois a atividade do bancário o submete a uma
carga emocional desgastante. Entretanto, os maus momentos ficaram para trás,
como percalços da profissão. Em determinado momento da minha carreira, eu
estava interinamente respondendo pela gerência geral da agência do banco em
Manaus, quando uma funcionária irrompeu sala adentro pedindo que eu fosse até à
assistência de pessoa física, onde a titular se encontrava ausente. Segundo a funcionária, lá havia um homem muito estranho,
sentado em frente a sua mesa, dizendo-se cliente e que precisava falar
urgentemente com alguém responsável pelo banco. Mesmo extremamente atarefado,
desci ao andar térreo da agência e me dirigi à pessoa indicada.
Era um homem de
pequena estatura, vestia um terno surrado e curto. Segurando entre as mãos um
chapeuzinho de feltro com as abas quebradas, ele olhava fixamente para o chão e
esfregava os pés descalços no felpudo tapete azul, que revestia o piso. Cumprimentei-o
e ele prontamente, colocou-se de pé, estendeu-me a mão direita,
apresentando-se como Zé Mitonho. O homem vinha
do Careiro da Várzea e trazia um cheque para depositar em sua conta. Quando olhei
para o cheque, apesar de estar acostumado a lidar com muito dinheiro, estranhei
que uma pessoa com aquela “aparência” portasse um valor tão elevado, embora,
não fosse em espécie. Ao
avistar o beneficiário no documento é que me dei conta de quem se tratava e
fiquei meio engasgado. Eu apenas o conhecia de nome porque ele jamais havia
colocado os pés na agência. O senhor Zé Mitonho, cujo nome oculto por questões
de segurança, era um fazendeiro da região, tinha a maior aplicação individual
de nossa agência e estava ali, na nossa frente, humilde, maravilhado com a
imponência do que via a sua volta. Me desculpei, explicando-lhe que estava
interinamente no cargo e não conhecia ainda a todos os clientes. Ele sorriu e
calmamente justificou que criava gado na várzea e com a aproximação das cheias
resolvera vender um lotezinho antes que as águas subissem e dificultassem o
transporte. Foram só trezentas cabeças, pra garantir o inverno. Avisada por
telefone, entra esbaforida na agência a colega responsável pela conta do seu
Zé. Corre ao seu encontro, abraça-o, pega os sapatos que ele havia deixado no
corredor e mesmo sob protesto, fez o homem calçá-los.
Cuidado! As aparências podem enganar! |
-Esse
pano é tão macio, disse-nos ele, serviria até pra enfeitar as paredes, é pena
que seja coberta de chão. Pensei comigo mesmo que muitas vezes tive que engolir
sapos de pessoas que não possuíam 1% do seu patrimônio, mas arrogantes, exigiam
tapete vermelho. Ficamos amigos, o seu Zé e eu, e ainda hoje relembro saudoso, de
sua fala mansa, narrando causos de sua maior paixão: as pescarias.