Este blog surgiu entre conversas de “buteco”, depois de tanto ouvir as amigas falando sobre desilusões amorosas, aventuras e desventuras sentimentais, trabalhos problemáticos, destinos incertos, “amigas da onça” e demais blá, blá, blás relacionados às incertezas da vida. Resolvemos botar pra fora! Escrever um livro!! Mas... na falta de um editor que compre nossas idéias, um blog é um bom canal pra falar sobre todos esses assuntos e compartilhar com todas as gurias as agruras de sermos mulheres bem resolvidas, no séc. XXI. Sintam-se à vontade gurias e guris pra comentar os assuntos e dar sugestões!!

domingo, 14 de julho de 2013

Butequeiro da Rodada: Sr. Anildo!!!

O convidado da semana nos traz toda sabedoria do alto dos seus sessenta e poucos anos.
Uma lição de como não devemos julgar as pessoas pelas aparências:

Exemplos de vida

Fui um profissional apaixonado pelo meu trabalho e ainda hoje, aposentado, apraz-me falar dos momentos inesquecíveis que ele me permitiu desfrutar. É claro que não trilhei apenas caminhos floridos, pois a atividade do bancário o submete a uma carga emocional desgastante. Entretanto, os maus momentos ficaram para trás, como percalços da profissão. Em determinado momento da minha carreira, eu estava interinamente respondendo pela gerência geral da agência do banco em Manaus, quando uma funcionária irrompeu sala adentro pedindo que eu fosse até à assistência de pessoa física, onde a titular se encontrava ausente. Segundo a funcionária, lá havia um homem muito estranho, sentado em frente a sua mesa, dizendo-se cliente e que precisava falar urgentemente com alguém responsável pelo banco. Mesmo extremamente atarefado, desci ao andar térreo da agência e me dirigi à pessoa indicada.
Cuidado! As aparências podem
enganar!
Era um homem de pequena estatura, vestia um terno surrado e curto. Segurando entre as mãos um chapeuzinho de feltro com as abas quebradas, ele olhava fixamente para o chão e esfregava os pés descalços no felpudo tapete azul, que revestia o piso. Cumprimentei-o e ele prontamente, colocou-se de pé, estendeu-me a mão direita, apresentando-se como Zé Mitonho. O homem vinha do Careiro da Várzea e trazia um cheque para depositar em sua conta. Quando olhei para o cheque, apesar de estar acostumado a lidar com muito dinheiro, estranhei que uma pessoa com aquela “aparência” portasse um valor tão elevado, embora, não fosse em espécie. Ao avistar o beneficiário no documento é que me dei conta de quem se tratava e fiquei meio engasgado. Eu apenas o conhecia de nome porque ele jamais havia colocado os pés na agência. O senhor Zé Mitonho, cujo nome oculto por questões de segurança, era um fazendeiro da região, tinha a maior aplicação individual de nossa agência e estava ali, na nossa frente, humilde, maravilhado com a imponência do que via a sua volta. Me desculpei, explicando-lhe que estava interinamente no cargo e não conhecia ainda a todos os clientes. Ele sorriu e calmamente justificou que criava gado na várzea e com a aproximação das cheias resolvera vender um lotezinho antes que as águas subissem e dificultassem o transporte. Foram só trezentas cabeças, pra garantir o inverno. Avisada por telefone, entra esbaforida na agência a colega responsável pela conta do seu Zé. Corre ao seu encontro, abraça-o, pega os sapatos que ele havia deixado no corredor e mesmo sob protesto, fez o homem calçá-los.
-Esse pano é tão macio, disse-nos ele, serviria até pra enfeitar as paredes, é pena que seja coberta de chão. Pensei comigo mesmo que muitas vezes tive que engolir sapos de pessoas que não possuíam 1% do seu patrimônio, mas arrogantes, exigiam tapete vermelho. Ficamos amigos, o seu Zé e eu, e ainda hoje relembro saudoso, de sua fala mansa, narrando causos de sua maior paixão: as pescarias.